sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Quando a morte vende, e muito



Na sala de aula da faculdade de jornalismo éramos divididos em dois grupos: os bons na redação e os ruins na ética, outros, bons na ética mais eram ruins no texto. Tinham aqueles que se destacavam nas duas disciplinas, mas eram raros. As aulas de ética eram as mais debatidas, mas a único fato que toda a sala era unânime: o suicídio. Publicar ou não a matéria ? Eis a questão. Todos concordavam em não, devido o incentivo a outras mortes, preocupação com os familiares do morto.

A cobertura sensacionalista de um suicídio deve ser assiduamente evitada. No mínimo dizer que foi encontrado morto e segue as investigações.

Em apenas dois dias, três casos na mídia: um jogador de basquete americano, um rapaz que invadiu uma farmácia e acabou tirando a vida da ex-noiva, e na região, um senhor que foi encontrado morto.

Os dois primeiros casos até que foram noticiados com cautela, porém, o terceiro na mídia regional virou manchete, colocando várias vezes a palavra suicídio e dizendo com detalhes como foi a morte. "Nada de descrições do caso, nem colocar a culpa em algo", dizia o professor.

O problema é que muitos esquecem dos ensinamentos e aqueles que eram bons em redação e péssimo em ética viram repórteres. Mas por que fazer ? Acabam descrevendo matérias por telefone, espaço grande para a matéria ? Algo que você poderia colocar uma matéria menor, com uma simples ronda policial.

Lembro da cena de um homem na torre de uma antena celular, altura de oito andares, querendo tirar a própria vida. Fazendo a cobertura do caso, eu já sabia que caso o homem pulasse eu não teria matéria.

Fiquei nove horas olhando pra cima. Veio família, filhos, moradores e inúmeros outros. Fiz uma reportagem narrativa e nada mais. Ele não pulou e acabou não voltando para mulher, que era o motivo do desespero.

Neste mês, um a imagem intitulada 'Limite do Desespero', captada por Hermes Bezerra, repórter-fotográfico do Diário Catarinense, foi a vencedora do I Troféu Olivío Lamas de Fotojornalismo. O concurso foi promovido pelo Sindicato dos Jornalistas, Associação Catarinense de Imprensa e apoio da Federação Nacional dos Jornalistas, com patrocínio da Eletrosul. A entrega foi da premiação foi realizada na Assembléia Legislativa. O homem da foto morreu. Ele estava internado num hospital em Buenos Aires.

A morte vende a notícia com foto e vai para a capa. Será que as pessoas sentem prazer em ler as notícias de morte ? Chegam a pensar que maravilha estou vivo ?

A família e a culpa, a dor da família ?

Com certeza vamos ler muitas matérias sobre suicídio !

Mas porque não fazer uma matéria sobre o que levam as pessoas a tirar a vida ! Telefones de órgãos que ajudam !
Viva as vendas !!!

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